quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Coito Interrompido

Na porta da igreja:

Sônia! Corre aqui, vem cá! O cachorro tá fazendo mal a cachorra.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Sobre o Ateísmo do Marquês

Na obra Filosofia na Alcova do Marquês de Sade podemos encontrar um panfleto intitulado: "Franceses, mais um esforço se quereis ser republicanos", que consiste em um ataque feroz aos costumes e tem como principal objetivo a fundação de uma república. Para que o novo regime seja instituído é necessário que novos valores sejam fundados. Desconstrói todos os valores vigentes e sob as ruínas esboça uma sociedade monstruosamente livre, igualitária e fraterna.

Neste brevíssimo texto analiso o seu método para destruir Deus.

A religião base da moral e dos costumes é a primeira ameaça a ser combatida, pois suas leis não servem a implantação da distopia sadeana que tem como principal objetivo realizar os ideais da Revolução Francesa. Deus não está morto detecta o marquês, Ele está solto e é ampla e contraditoriamente representado nas religiões. Para combatê-lo, esboça um método que tem como principal instrumento o escárnio, este irá pô-lo definitivamente em sua cova. Será preciso ridicularizá-lo, desnudá-lo através do deboche, pois não existiriam argumentos para provar a existência ou tentar salvar algo que julgava tão absurdo. Para nosso celerado não adiantaria destruir os templos, nem se armar de todos os martelos,
"os sarcasmos de Juliano prejudicaram mais a religião cristã do que os suplícios de Nero" (Filosofia na Alcôva, Sade. 2003Pág 66)
A virtude cristã será destruída através da acidez corrosiva da fina ironia.

O texto sadeano é guloso, talvez o seu principal recurso estilístico seja a paródia, estratégia literária que reúne em um só texto dois discursos ambíguos e complementares, a paródia é essencialmente crítica e subversiva, nela Sade brinca com o idealismo sentimental típico dos heróis virtuosos educando-os à libertinagem, fazendo com que eles reconheçam a lei do prazer. Através da paródia um discurso comum é subvertido e elevado as últimas conseqüências.

É em tom de riso debochado que as opiniões que servem de elemento fundante para as religiões cairão por si mesmas,
"tendo em vista que cada povo considera a sua religião a melhor, e estas provas estariam pautadas sobre uma infinidade de provas discordantes e contraditórias, por isso nenhuma delas agradaria mais a Deus, já que ele nem existe."
Segundo Roland Barthes,
"há na linguagem de deboche um princípio de delicadeza, cujo fundamento repousa nos gostos, nos caprichos, nas fantasias". Essa delicadeza conclui Barthes: é pura perversão.


por Cristóvão Sant'Anna


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Yuri Firmeza




Yuri Firmeza, artista cearense famoso por suas performances, questiona os mecanismos que dão validade a uma obra de arte. Firmeza criou o artista-plástico japonês Souzousareta Geijutsuka (o nome significa “artista inventado”) e a sua exposição Geijitsu Kakuu (quer dizer “arte e ficção”), apesar das pistas ninguém descobriu a farsa, toda imprensa embarcou nos mirabolantes releases de divulgação criados pelo artista e sua equipe. Foi criada uma grande expectativa diante do tal artista japonês, no dia marcado ele não veio, no lugar dele, impressos de e-mails trocados entre Yuri Firmeza e um amigo sobre a idéia de criar um artista imaginário e como isso poderia ser recebido pelo público e pela imprensa. Trecho do conteúdo do impresso: “O que me interessa é interrogar sobre a qualidade do que compõe todo esse sistema de legitimação estética: críticos, jornais, artistas, curadores, galerias, museus e o próprio público”. O artista mostra o quanto é escorregadio o caminho do crítico, ainda mais numa época onde o “gesto” também é objeto da arte.

Giacometti



"Ele: Um dia, no meu quarto, ao olhar para uma tolha sobre a cadeira, tive a nítida impressão de que não apenas cada objeto estava só, como tinha um peso – ou melhor, uma ausência de peso – que o impedia de pesar sobre o outro. A toalha estava só, tão só que eu tive a sensação de poder retirar a cadeira sem que a toalha se movesse. Ela possuía seu próprio lugar, seu próprio peso, e até seu próprio silêncio. O mundo era leve, leve..."



Trecho extraído do livro O ateliê de Giacometti de Jean Genet.

Segundo James Lord, autor da biografia de Giacometti, "o texto de Jean Genet é uma dessas raras instâncias na arte em que a natureza de uma pessoa torna-se, com êxito, o material da criação de outra pessoa". Recomendo "O ateliê de Giacometti".

Hundertwasser



"A linha reta não existe na natureza" Hundertwasser


Tomei a liberdade de batizar a sua poética de "estética da favela", amálgama entre arquitetura e paisagem, harmonia sem simetria, ordem dentro do caos. Obra vertiginosa, seu espaço é delirante e coloca teu gosto a prova.

Solução para as olimpíadas RIO 2016.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

George Rousse



Pequenas considerações sobre o trabalho do artista:

Questiona a realidade da fotografia, o que ele fotografa não existe. George Rousse sempre escolhe espaços em transição, em situação ambígua de existência, com uma técnica bastante apurada produz ilusões, imagens anamorficas - só fazem sentido a partir de um ponto. A fotografia é a linguagem que melhor acolheu sua proposta.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Roman Opalka






Diante das pouquíssimas informações em português sobre Opalka, resolvi me aventurar, faço uma pequena análise sobre o seu trabalho.

Cada tela se chama Detalhe, persegue a grandeza do sublime, o que não se controla. Há mais de quarenta anos espera pela morte no seu sistema de repetições, pinta uma seqüência de números brancos sobre o fundo negro. Ao longo dos anos adicionou cada vez mais branco ao fundo, hoje o branco é no branco. Seu trabalho carrega o trauma do cárcere na juventude, onde o único anúncio do tempo era uma fresta de luz onde contava os dias, a liberdade acrescentou branco a sua vida, aquela pequena entrada de luz se alargou. Seu sistema privilegia a rotina, sua obra é uma prisão, durante toda vida não desviou uma linha do que se dispôs. Fugir do modelo que criou significa implodir o que construiu. Elegeu um tamanho de tela (196 cm x135 cm), um tamanho de pincel, diariamente pinta a passagem do tempo a partir do canto superior esquerdo, todos os números em ordem crescente, começando pelo número um, em fileiras horizontais. Como se aprisiona o infinito? Além de tirar diariamente fotos suas. Camisa branca, fundo branco. Opalka retrata sua degeneração, sua pequena morte diária, o tempo é sua obsessão, o que o levará inexoravelmente a morte.