sábado, 22 de agosto de 2009

HILDA HILST

"que o homem tenha um cérebro sim, mas que nunca alcance, que sinta amor sim mas nunca fique pleno, que intua sim meu existir mas que jamais conheça a raiz do meu mais ínfimo gesto, que sinta paroxismos de ódio e de pavor a tal ponto que se consuma e assim me liberte, que aos poucos deseje nunca mais procriar e coma o cu do outro, que rasteje faminto de todos os sentidos, que apodreça, homem, que apodreças, e decomposto, corpo vivo de vermes, depois urna de cinzas, que os teus pares te esqueçam, que eu me esqueça e focinhe a eternidade à procura de uma melhor idéia, de uma nova desengonçada geometria, mais êxtase para minha plenitude de matéria, licores e ostras. Vem vem depressa, Hillé, olha um bichinho tão delicado engolindo outro."


"você já viu Deus? Eu não, Deus me livre."


"Ai Senhor, tu tens igual a nós o fétido buraco? Escondido atrás mas quantas vezes pensado, escondido atrás, todo espremido, humilde mas demolidor de vaidades, impossível ao homem se pensar espirro do divino tendo esse luxo atrás(...) Ó buraco, estais aí no teu senhor? Há muito que se louva o todo espremido. Estás destronado quem sabe, senhor, em favor desse buraco? Estais me ouvindo? Altares, velas, luzes, lírios, e no topo uma imensa rodela de granito, umas dobras de mármore, um belíssimo ônix, uns arremedos de carne, do cu escultores líricos."


Mais uns trechinhos da Obscena Senhora D.


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