terça-feira, 11 de agosto de 2009

Marcelino Freire

"Bicha devia nascer sem coração. É, devia nascer. Oca. É, feito uma porta. Ai, ai. Não sei se quero chá ou café. Não sei. Meus nervos a flor de algodão. Acendo um cigarro e vou assistir televisão. Televisão. O especial de Roberto Carlos todo ano. Ai, que amolação! Esse coração de merda. Bicha devia nascer vazia. Dentro do peito, um peru da sadia. É, devia. (...)"


"(...) Conquista de território. Aí o bofe tomou um Ki-suco de morango, comeu um omelete, conversou um pouco e nada. Não rolou nada naquele dia, acredita? Ele travou, não sei. Não-me-toque, eu não toquei. E assim a gente ficou. Ele saiu chupando um chiclete de uva verde. Eu amarelei. (...)"


"(...) Pior coisa, amiga, é uma trepada quando fica engasgada. Vira uma lembrança agoniada. Uh! (...)"


"(...) Não agüentei ficar em casa, sozinho, e vim tomar um café com você. Essa bosta de tristeza que bate no coração da gente, de repente. Que desmantelo! Bem que Roberto podia cortar esse cabelo. E eu, nascer sem coração, repetiu. É sem coração."



Pequenas considerações sobre o autor:


Marcelino é cru como o sotaque que faz questão de carregar, sua poesia reside na ternura com que trata os marginais. Cada "ponto" cria uma imagem e te transporta para o outro lado, é o assombro do ladrão diante da vítima.

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